segunda-feira, 23 de março de 2015

POLICIAL DE PACOTILHA

Que Agatha Christie foi "a escritora policial mais aclamada de todos os tempos", não restam dúvidas. Hercule Poirot, Miss Marple, Tommy e Tuppence, Ariadne Olivier, entre tantas outras, foram algumas das principais personagens criadas por ela e que que deram origem a inúmeros filmes e séries, ao longo de várias décadas e até aos nossos dias.

Que uma editora esteja interessada em repetir o sucesso da escritora britânica, até se pode compreender. Que a família autorize que outra autora use uma das suas personagens mais emblemáticas - Hercule Poirot - já considero menos aceitável. Agora que alguém, no seu juizo perfeito, se queira sujeitar à comparação, parece-me inacreditável. Mas certo é que Sophie Hannah aceitou a incumbência. "Ah e tal, se calhar a mulher tem dificuldade em vender os seus livros e tem contas para pagar, não teve outro remédio", pensei com os meus botões. Não podia estar mais enganada: segundo a wikipédia, a mulher escreve poesia e ficção policial há mais de uma década e já tem uma invejável coleção de títulos publicados. E em Inglaterra, ao contrário de cá (e salvo honrosas exceções), consegue-se viver da escrita (não jornalística).

E agora perguntam vocês: mas tu foste comprar um livro, sabendo de antemão que a escritora tinha usado Poirot como personagem, o que certamente faria com que Agatha Christie desse várias voltas na tumba, caso houvesse outra vida para além desta? A resposta é não. Tanto por respeito pela grande mestra, como por à partida adivinhar que o Poirot de Sophie dificilmente me ia agradar. Como de facto aconteceu. Mas o livro foi-me oferecido por quem sabe que sou grande fã da escritora original (já repararam no pormenor da capa, em que o nome de Sophie aparece mais pequeno e quase tipo rodapé?) e um dia comecei a lê-lo, sem ter a certeza de chegar ao final.

Lá para a página 30, decidi fazer de conta que a personagem era outra e que por coincidência também se chamava Poirot. Até tinha alguns dos seus tiques habituais, mas levados a um extremo caricatural, em que o homem parecia tolo, exibicionista e muitíssimo malcriado. O livro não está mal escrito, de modo que segui em frente, se bem que o enredo me parecesse um pouco confuso, cheio de voltas e reviravoltas. O que é suposto num policial, note-se, mas era difícil acreditar em cada uma das versões, porque nada batia certo: todos mentiam. Tudo levava a crer tratar-se de um pacto de suicídio, mas não cabe no perfil de uma coscuvilheira nata suicidar-se... por coscuvilhar. OK, como é que Sophie descalçou esta bota? 

AVISO / SPOILER: quem quiser ler o livro deve parar por aqui, pois vou revelar um dos "truques" finais: num quarto de hotel estão 3 pessoas a conversar e um empregado vai levar um lanche aos 3; mais tarde serve de testemunha que se encontravam todos de boa saúde e consegue reproduzir parte da conversa, se bem que não tenha prestado muita atenção. E não é que o homem era tão distraído que nem reparou que uma das pessoas já estava morta, embora as outras duas falassem com ela como se estivesse viva? "Oh-balha-me-Deus", como diria o Diácono Remédios, "não habia nexexidade". Nem desta espécie de Poirot, nem deste final para totós...

Sophie, Sophie, escreve lá a tua poesia ou ficção, mas não te metas em comparações destas, pois não chegas nem aos calcanhares da grande Agatha!

22 comentários:

  1. Anónimo3/23/2015

    Li atentamente a tua opinião acerca desse policial, Teté, e sabes o que mais me admira? É que a família de Agatha Christie tenha dado permissão para que o nome da maior escritora de literatura policial, de todos os tempos, apareça escarrapachado em grande plano como se o livro fosse da autoria dela.
    Eu mesma quando vi a foto me espantei pois não conhecia esse título como sendo da escritora.

    Às tantas quem está a precisar de money serão os descendentes da grande Dama do Crime...:)

    Gostei dos laivos humorísticos da tua escrita!! :)

    Beijocas. :-*

    Janita

    PS. Lamento, mas a net e o meu pc aliaram-se contra mim. De repente fico em branco, foge-me o blog o google e o diabo a sete, pelo que vai o comment já. Há seguramente 15 m. que estou a tentar escrever.

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    1. Na volta é isso mesmo, JANITA: junta-se a vontade de ganhar dinheiro fácil da editora a uns descendentes tesos... e é no que dá! Porque realmente não havia razão nenhuma para fazer "renascer" a personagem noutras mãos, de uma forma tão caricatural :P

      Poisé, o blogger às vezes tem as suas travadinhas... e os PCs também! grrrr...

      Beijocas

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  2. Anónimo3/23/2015

    Então os bonecos não apareceram????

    :(

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    1. Os bonecos deixaram de funcionar há muito tempo, o problema é que não sei tirá-los de lá, JANITA... (foi um amigo que os pôs, mas ele deixou a a blogosfera - ou foi para férias prolongadas) ;)

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  3. Este romance está à minha espera em Vila Nova de Gaia.

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    1. Então depois diz de tua justiça, EMATEJOCA! ;)

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    2. Pois é como tu escreves com muito humor:

      "Oh-balha-me-Deus", como diria o Diácono Remédios, "não habia nexexidade". Nem desta espécie de Poirot, nem deste final para totós...

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    3. Pois é, EMATEJOCA, mesmo para quem não tenha uma predileção por Agatha Christie,pelo menos podia ser um bom policial. Mas nem isso... ;)

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  4. Anónimo3/23/2015

    Como não sou grande admirador de literatura policial, não correrei o risco de o ler :-)
    Beijinhos e boa semana

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    1. É da maneira que poupa tempo e dinheiro, CARLOS! :)

      Beijocas e boa semana!

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  5. Raramente leio policiais.

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    1. Eu sou fã incondicional, LUISA, mas dos bons, que também os há muito maus! ;)

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  6. Pretender imitar Agatha é quase aspirar ao divino, Teté.
    Esta senhora, que deve ter uma qualquer ponta de senilidade, meteu-se numa empreitada que tinha que dar mau resultado.
    Beijocas

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    1. Pelo contrário,a mulher ainda é relativamente nova, de modo que até aquele ambiente vitoriano que perpassa em alguns dos primeiros livros de Agatha Christie desapareceu completamente. Um fiasco,no meu entender, mas se calhar as pessoas tiveram curiosidade e compraram e leram. Se caem noutra ou não é que já são outros 5 paus... ;)

      Beijocas

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  7. Se não tivesses dito que essa tal Sophie tem outras obras publicadas e baseado na tua apreciação desse livro, diria que ela deveria ter escrito uma sopa de letras.
    Tomáva-lhe menos tempo e seria bem mais nutritiva cerebralmente!
    Beijoka escrita com sorrisos :)

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    1. Agora pode escrever as sopas de letras todas que quiser, KOK, uma vez que não tenho a menor intenção de ler mais nenhum livro dela... ;)

      Beijocas sempre sorridentes!

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  8. Ontem começou uma nova série da Agatha, tem uma Miss Marple que ainda não conheço mas acho que vou gostar mais do que da anterior...
    Gravei e vou vê-la esta noite.
    Adoro os livros dela e este teu post foi elucidativo...a Sophie não pode contar comigo :)))
    xx

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    1. A série não começou ontem, PAPOILA, a atriz principal (a que faz de miss Marple) é que mudou nesta 4ª temporada. Com muita pena minha, que gostava mais da anterior. Mas não perdi ainda nem um episódio! :)

      xxx

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  9. Em policiais eu já nem sequer gosto dos originais, quanto mais das imitações, rrsss

    Beijinhos, Teresinha, e bom serão

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    1. Pois, imitações do que quer que seja já são de evitar, mal feitas...pior ainda, SÃO!

      Beijocas e bons sonhos!

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  10. Teté passo apenas para deixar o meu beijinho! A minha ausência é forçada.

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    1. Espero que não seja forçada por muito tempo.Beijinhos, FLOR DE JASMIM! :)

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)