terça-feira, 2 de julho de 2013

A CIDADE DE ULISSES

Ao encontrar Teolinda Gersão na Feira do Livro de Lisboa 2013, ainda mais com um título tão sugestivo, pensei: "é desta que a vou ler!"

E foi! Simpática, autografou o meu livro com uma daquelas letras difíceis de entender, com as seguintes palavras: "Para a Teresa, esta história de amor passada em Lisboa, que é também uma história de amor por Lisboa."

Verdade: para além do romance, também é! E não me venham dizer que, sendo ou vivendo noutras cidades nacionais ou internacionais, não vibram com as ruas, fontes, lagos, pontes ou  jardins da terra que amam. Seja uma grande e cosmopolita urbe ou uma pequena aldeia (quase) desconhecida.

Paulo Vaz é um artista plástico já reconhecido internacionalmente quando o convidam para fazer uma exposição sobre Lisboa na Gulbenkian. A sua primeira reação é a de recusar o convite, pois mantivera esse projeto, muitos anos antes, com a mulher que amara profundamente, Cecília Branco, também ela artista plástica. Mas depois de uma serena e cúmplice  vivência de quatro anos em comum - em que as únicas discussões eram sobre o gato Leopoldo que ela recolhera e ele tivera dificuldade em aceitar - a relação acaba intempestiva e violentamente, quando ela lhe revela estar grávida. Durante a contenda ela cai na escada do apartamento (ele não sabe ao certo se a empurrou?!?) e acaba no hospital, apenas com umas mazelas, mas perdendo o feto que germinara no seu ventre. Paulo arrepende-se e acompanha-a no hospital e leva-a de volta para casa, mas poucos dias depois encontra-a vazia: Cecília partira, levando consigo Leopoldo e os esboços que criara durante esse período.

Apesar de a procurar incansavelmente junto de familiares, a recusa sistemática em voltar sequer a falar com ele evidenciam  que ela pusera um ponto final no relacionamento, de uma vez por todas. E também ele parte para outras partes do mundo, avançando com os projetos que acalentara, mas que adiara para ficar junto de Cecília. "Lisboa desapareceu contigo." - conclui. No entanto, 19 anos depois da sua errância pelo mundo, Paulo regressa  à sua terra natal, para encontrar outra companheira, Sara, que novamente o prende à cidade, embora exerça outra profissão - ele não é Ulisses, a regressar aos braços de Penélope, após tão longa ausência, mas de alguma forma aquela mulher está à espera dele. Mas o convite para a exposição traz memórias antigas, que finalmente ele parece ultrapassar ao aceitar...

Em suma: o romance pode ser banal, igual ou semelhante a tantos outros pelo mundo - as desilusões amorosas acontecem a (quase) todos e são um maná para romancistas! - mas gostei da escrita, de encontrar o reflexo da minha cidade em muitas destas 206 páginas, para além das lendas e teorias referentes a Ulisses, personagem de ficção e à qual Lisboa (talvez) deva o seu nome: "Ulisseum, transformado depois em Olisipo através de uma etimologia improvável."

Citações:

"De qualquer modo no meio da crise generalizada a nossa felicidade pessoal era um bem precioso, um pequeno milagre a defender ciosamente da enorme turbulência à nossa volta." [o ano referido é 1982...]

"Tinham-se passado muitos anos, mas os amigos mantinham-se. Esse foi sempre na minha vida um território particularmente estável, em que fui conservador e fiel: escolhemos os amigos e eles escolhem-nos, e tornamo-nos mais próximos à medida que a vida passa."

"Ulisses ama Penélope acima de tudo no mundo, se entre eles estiver o mar e ele puder amar todas as mulheres, dirias. Com a lucidez que sempre te conheci."

19 comentários:

  1. Parece interessante e até já tinha lido outras críticas sobre o mesmo!
    Mas ando, como sempre, com três entre mãos...por agora ficará para mais tarde!

    Abraço

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    1. Gostei, ROSA, mas para conhecer melhor a escritora teria de ler outros. O que para já não me parece, porque tenho outros títulos e autores para ler na estante... :)

      Abraço

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  2. E aqui vou conhecendo novos escritores.
    Acabei de requisitar o único livro dela que se encontra no sistema de bibliotecas de Toronto. “O Silêncio”.
    Obrigada! : )

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    1. É, CATARINA, já te tinha dito que os escritores mais badalados no Canadá são diferentes dos mais badalados de cá. E não é que esta seja muito badalada, mas é conhecida q.b., ainda não calhara ler nenhum título dela, foi agora... :)

      De nada, a "troca" de badalações é mútua! :D

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  3. A Teolinda Gersão vai estar na Casa Fernando Pessoa amanhã às 18,30h; vou escrever sobre isso no "ematejoca azul", só que agora não tenho tempo.

    Volto à noite!

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    1. OK, depois irei ler-te, EMATEJOCA! Obrigada pela informação, mas não poderei comparecer, que já tenho outras programações... ;)

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  4. Obrigada Ematejoca!
    Vou ver se consigo lá ir...é muito em cima da hora de ir buscar o Dinis e Campo de Ourique não tem para mim os melhores transportes!

    Abraço

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    1. Pois, infelizmente para mim não dá, ROSA! Mas fiquei curiosa em saber o que irá ela lá fazer... ;)

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  5. Este post recordou-me que em tempos escrevi uma espécie de poema intitulado "Existe Amor em Llisboa" :) a ver se o procuro.

    Beijoca

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    1. Boa, procura, sim que é sempre giro recordar escritos antigos, POPPY! :)

      Beijocas!

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  6. Hummmmm parece interessante, desta vez não prometo comprar, mas vou anotar, como sempre...gosto de romances :)

    Beijinho :)

    *tiveste saudades minhas? Não? Ok, então volto mais tarde eheheh

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    1. Também gosto de romances, MARIA! E de ficção de quase todo o género, menos a científica e de terror... ;)

      Beijocas!

      * saudadinhas, sempre! :)))

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  7. Nunca li nada dela...mas agora também não vou comprar mais livros: descobri cerca de uma dúzia de que já nem me lembrava, rrsss

    Beijufas

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    1. Bom, também não pretendo comprar mais livros por enquanto, SÃO! Mas não me esqueço deles assim com tanta facilidade... que estão aqui "empratelereirados" em stand by! :)

      Também nunca li nada dela, mas gostei da "amostra"!

      Bons sonhos!

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  8. Conheci a família de Teolinda Gersão.
    Conheço mal a sua obra literária.
    Uma falha imperdoável!
    Beijocas!!

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    1. Bom, PEDRO, também não lhe levo grande avanço, que só li este! :)

      Beijocas!

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  9. Anónimo7/03/2013

    Há uns anos tentei ler um livro dela, mas não consegui terminar. Dizem-me, no entanto, que esse é um bom livro. Talvez um dia vote a tentar lê-la...
    Beijinhos

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    1. Deste eu gostei, CARLOS, mas quanto aos restantes não me posso pronunciar, que não li mais nenhum... :)

      Beijocas!

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  10. Gostei muito...

    http://numadeletra.com/a-cidade-de-ulisses-de-teolinda-gersao-56804

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)