quinta-feira, 8 de agosto de 2013

KAFKA À BEIRA-MAR


Este foi o livro que li nas férias, se bem que seja um pouco pesado para trazer na sacola de praia. Mesmo assim, não me arrependi. Embora seja apenas o sétimo título de Murakami que leio nos últimos quatro anos e tal, o "sabor" é sempre semelhante a um daqueles bombons Quality Street: desembrulha-se a capa de slofan colorido, a prata, trinca-se o chocolate, escorre um caramelo delicioso e ainda encontramos uma avelã no interior...

Difícil é dar uma ideia do enredo, onde mais uma vez se cruzam vidas paralelas do passado e do presente, por vezes no mesmo espaço, apontamentos musicais, breves passagens de literatura ou da mitologia grega, num mundo muito próprio, entre a fantasia, o sonho e a realidade. Para lá dos segredos e mistérios que envolvem personagens tão diferentes como Kafka Tamura, um rapaz de 15 anos que foge de casa, ou Nakata, um velhote que ficou tonto na infância após um "acidente", mas que é capaz de falar com gatos, para além de um escultor maquiavélico que tem a imagem do Johny Walker das garrafas de whisky, um chulo que se parece com o Coronel Sanders (fundador da Kentucky Fried Chickens), um simpático bibliotecário andrógino, um jovem camionista que guarda boas recordações do avô ou uma mulher de meia idade que perdeu o seu grande amor aos vinte anos. Em comum, parecem ter apenas uma enorme solidão, em que não falta uma espécie de "grilo falante" na forma de corvo, que também funciona como a voz da consciência do jovem rapaz. 

São 589 páginas onde constam algumas das questões que sempre atormentaram o ser humano, torneadas por um halo de misticismo, mas simultaneamente eivadas da ironia característica do escritor nipónico. Só o talento de Murakami contar histórias nos torna reféns da leitura, na vontade de saber o seguimento, de deslindar a imperceptível relação que une os vários capítulos e de finalmente explicar todos os elos de ligação. No entanto, creio que as conclusões dos leitores podem ser muito díspares...

Repito o que escrevi sobre o primeiro livro que li do escritor, em dezembro de 2008: Pura magia!

Citações:

"Devo confessar que nunca fui de ler muito depressa. Gosto de me debruçar sobre cada frase, pelo prazer de apreciar o estilo. Quando a escrita não me diz nada, interrompo a leitura."

"Ficar sentado e quieto era, por assim dizer, a sua especialidade."

"- Porque todo aquele que se apaixona está à procura da metade que lhe falta. Daí que todo e qualquer apaixonado se sinta triste ao pensar na pessoa amada. É como regressar passado muito tempo a um quarto onde se viveu bons momentos."

"Sentou-se ao lado da pedra e começou a afagá-la, ao mesmo tempo que se esforçava por encontrar assuntos que pudesse abordar com uma pedra. Era a primeira vez que se via à conversa com uma e estava com alguma dificuldade em achar tópicos apropriados."

22 comentários:

  1. A segunda citação é ao estilo de Mia Couto.

    Uma fotografia muito bem tirada. Gostei do efeito das pedras e do copo de cerveja. Nota-se o teu progresso criativo em fotografia! : ))

    Também ando aqui às voltas com A Divina Comédia que requer um certo tempo... talvez mais invernoso.

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    1. Não admira que seja, CATARINA, porque Mia Couto fala muitas vezes de personagens simples e, no caso, o pensamento é o do velhote que perdeu toda a memória na infância.

      Eheheh, obrigada!

      Pois, esse não creio que lhe pegue, pelo menos para já!

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    2. Ó Catarina - "DIVINA COMÉDIA" em Agosto? valha-me Deus...

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    3. Pois é, Seve, foi até em fins de julho e ainda estou no “inferno”! : ) Não tenho tido o enquadramento mental próprio para este tipo de leitura. : ) Já é a segunda vez que o começo...

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  2. Iniciei-me há pouco na leitura de Murakami e estou a apreciar muito a experiência.

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    1. Como referi, também só comecei a ler Murakami no final de 2008, MMM'S, mas estão cada vez mais fã... :)

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  3. Mais um para a lista (de espera)...

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    1. Se for tão comprida como a minha, LUISA, bem pode esperar... ;)

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  4. Nunca li nada dele.

    Nem vou ler agora, que tenho uma lista imensa ...a que se acrescentaram mais dois, que alguém decidiu emprestar-me!

    O post anterior é uma tentação, rrss

    Bom resto de dia.

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    1. Não sei se será muito o teu género de leitura, SÃO. Mas não há nada como experimentares... um dia destes! :)

      Gostaste dos petiscos, foi? :)))

      Bons sonhos!

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  5. Anónimo8/08/2013

    Boa escolha, Teté.
    Foi o primeiro livro que li de Murakami e fiquei desde logo fã. Depois li tudo ( menos o último de que tomei conhecimento por indicação sua, mas aguarda na fila de espera para ser desfolhado)
    Foi também com Murakami que me comecei a interessar pela literatura japonesa, tendo já feito algumas agradáveis descobertas.
    Beijinhos

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    1. Lamento tê-lo induzido em erro, CARLOS: no meu aniversário ofereceram-me realmente um livro de Murakami, que me disseram ser o último. Não é, é até um doas mais antigos e menos conhecidos! De facto ele ia lançar um novo livro nesta primavera (não sei se lançou!), mas no Japão. Portanto, com traduções e tal é possível que o próximo livro dele só saia em Portugal lá para finais de 2014.

      A leitura deste Kafka foi um bocado prova dos nove: uma amiga até gostava do escritor, mas desistiu de ler este, por o achar fantasioso demais, com gatos a falar e tal. Mas eu adorei a história, que certamente tem grande dose de fantasia, mas naquele mundo Murakamiano até faz sentido... :)

      Beijocas!

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  6. Por acaso é o livro que um amigo me recomendou há poucos dias.
    Infelizmente agora não posso ler.
    Um beijinho para ti Teté

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    1. Lamento imenso que ainda não tenhas ultrapassado esse problema, KIM, mas espero que dentro em breve possas voltar às tuas leituras e que o problema seja resolvido.

      Uma grande beijoca!

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    2. Tás a ver Kim, a TÉTÉ tem bom gosto; Murakami é um delicioso escritor, e este "KAFKA À BEIRA MAR" é um excelente livro, como são todos do Murakami (que li até agora).

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    3. Bom, SEVE, pelos vistos temos a mesma opinião sobre o escritor: absolutamente imperdível e delicioso! :)

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  7. Para ler na praia prefiro livros de menor porte, pelo que nunca o Kafka me acompanharia até à beira-mar, Teté!
    Desde que carreguei com "Mandingo" e não aproveitei quase nada de um mês de Julho, supostamente para veranear, dado não conseguir despegar-me do seu interessante enredo, que dou
    preferência a leituras mais leves e de fácil manuseamento. Os calhamaços guardo-os para ler em casa. Ainda não enveredei pelo Murakami, mas lá chegarei!:)

    Beijos, boas leituras e olha-me só que beleza de foto conseguiste...:) Estás a ficar uma fotógrafa muito criativa. :)

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    1. Bom, esclareço que se tivesse lido em Lisboa certamente a leitura seria mais rápida, JANITA! Mas mesmo que o livro seja deveras interessante e nos prenda, férias são férias e também há que as saborear em alegres convívios... :)

      Mas percebo essa opção! :D

      Obrigada (o título e o livro mereciam uma foto a condizer) e beijocas!

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  8. ainda não conheço o autor.
    Está há demasiado tempo em lista de espera.
    BFDS!!

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    1. É, se calhar já estava na altura de o ler, PEDRO! :)

      Beijocas!

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  9. Estou como o Pedro Coimbra!
    É tempo de o conhecer!

    Abraço

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    1. É sempre tempo para conhecer novos escritores, ROSA, mais que não seja para formar opinião... :)

      Abraço

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)