sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

CRÓNICA DO PÁSSARO DE CORDA

Murakami foi o escritor escolhido para iniciar as leituras do ano, até porque não me costuma desiludir. E, de facto, não lhe posso chamar desilusão, mas esperava melhor. Ou menos confuso, pelo menos.

Quem é fã do autor conhece o seu hábito de intercalar histórias, muitas vezes misturando o mundo real com o onírico, o místico ou o esotérico. Acontece que 632 páginas depois, em que uma carta por exemplo começa num capítulo e é acabada dois ou três depois, com outros assuntos pelo meio, prestam-se à tal confusão. 

Toru Okada leva a vida mais sem graça à face da terra - despediu-se do seu emprego, para repensar a carreira que pretende seguir, portanto limita-se a tratar da casa enquanto a mulher trabalha, a preparar as refeições, ir à lavandaria e procurar o gato (que fugiu) - mas de repente tudo lhe acontece: estranhos telefonemas, múltiplos encontros com pessoas desconhecidas que aparecem e desaparecem misteriosamente, a sua mulher sai de casa sem lhe dar qualquer satisfação, enfim, a sua vidinha leva uma reviravolta de 180º. Entretanto, os desconhecidos que vão surgindo na sua nova vida vão-lhe contando histórias mirambólicas, nomeadamente dos tempos em que o Japão esteve em guerra (antes e durante a II Guerra Mundial) e de algumas atrocidades cometidas por ambos os lados, e relatadas tão minuciosamente como se de um filme de terror se tratasse. E essas, tanto quanto se sabe, são as que fazem parte do mundo real...

Enfim, não chegou a ser desilusão, mas este livro escrito em meados dos anos 90 está longe de ser Murakami no seu melhor. Na minha modesta opinião, está claro, uma vez que há outras. Devia ter desconfiado com aquela crítica do cruzamento entre Woody Allen e Frans Kafka, dois autores que abomino. Mas não é tanto assim, porque senão não tinha passado da página 40. Quando muito!

Citações:

"Penso que, para a grande maioria dos japoneses, a guerra com a China ameaçava tornar-se um lodaçal do qual não lograríamos sair. Isto para os japoneses que tinham dois dedos de testa, pelo menos. Por mais batalhas localizadas que pudéssemos ganhar, a longo prazo nunca o Japão poderia ocupar e manter debaixo do seu jugo um país tão grande."

"E quando uma pessoa vive como se não passasse de um invólucro vazio, não se pode dizer que tenha vivido de verdade."

"Na linha da frente era um pandemónio, e o abastecimento tinha sido cortado. Não havia água nem víveres. Não havia ligaduras. Não havia munições. Foi uma guerra cruel, aquela. Na retaguarda os manda-chuvas só estavam interessados numa coisa: ocupar território, e quanto mais depressa, melhor. Ninguém queria saber do aprovisionamento das tropas para nada."

"O nosso querido Lenine só aproveitou o que quis das teorias de Marx e para usar como bem entendeu, e o nosso querido Estaline só aproveitou das teorias de Lenine o que foi capaz de entender (o que não era muito), e ainda por cima para seu próprio benefício." (em itálico, no original, já que é opinião de um personagem russo)

16 comentários:

  1. ~ Gostei das citações.
    ~ Foi uma guerra terrivelmente desumana, em que se pretendeu paralisar pelo horror.
    ~ Acontece haver leituras que não me caiem bem numa altura e mais tarde, acabo por achá-las interessantes.

    ~ ~ ~ Abraço com votos de dias plácidos e felizes. ~ ~ ~
    .

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    1. É verdade,MAJO, o momento em que lemos certos livros também influenciam positiva ou negativamente a nossa opinião. Mesmo assim, insisto que este não foi dos meus preferidos de Murakami... ;)

      Obrigada e dias felizes para ti também. E uma beijoca!

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  2. Obrigada pela análise, mas se achaste confuso...nem vou tentar, porque ando sem pachorra.

    beijinhos e bom final de semana; Teresinha :)

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    1. Nem me parece que seja muito o teu género de leitura, SÃO! ;)

      Beijoquinhas!

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  3. Não é, assim, um livro que pretendo ler. A autora que domina as minhas horas de leitura desde agosto é Diana Gabaldon! Estou a terminar o sétimo livro da série Outlander e já tenho o oitavo (o último publicado) em casa. A seguir vou dedicar-me a Ken Follett. : )

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    1. Chateia-me ler muitos livros seguidos do mesmo autor(a), CATARINA. Mesmo com as trilogias, normalmente leio outros pelo meio, ou porque são para o Clube de Leitura ou para desanuviar. Não sei se vou ter pachorra para tanta página de Follett, se é que te referes à última trilogia... ;)

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  4. Estou com tanta leitura atrasada... Esse não tenho na lista, mas Murakami sempre me parece bem. :)

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    1. Murakami é sempre bom, mesmo quando é menos bom que o seu melhor, LUISA... :)

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  5. Anónimo1/24/2015

    Foi o segundo livro dele que li. O primeiro tinha sido Kafka à beira Mar e este é muito inferior. De qq modo, como ainda estava a descobrir Murakami, não me desmotivou.
    Beijinhos e bom FDS, Teté.

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    1. Também gostei muito mais do Kafka, CARLOS! Mas pronto, às tantas é injusto compararmos entre si livros do mesmo escritor, porque é óbvio que há sempre alguns livros que preferimos a outros. A não ser se for estilo Dan Brown, que escreve quase sempre o mesmo, só mudam as personagens e cenário... :)

      Beijocas

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  6. Está em lista de espera.
    Lá chegarei.
    Beijocas, boa semana

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    1. E ainda vais muito a tempo, PEDRO! :)

      Beijocas

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  7. Ainda não li este autor. Está na bicha (que é longa) dos para ler. Porque são tantos os livros...
    Beijokas escritas com sorrisos :))

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    1. É verdade, de alguns escritores nunca cheguei a ler uma linha, KOK. Mas vou muito por recomendações de amigos, que é quase sempre o melhor critério, desde que eles gostem dos mesmos géneros... :)

      Beijocas sorridentes, sempre!:D

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  8. Olá Teté
    Murakami é um dos meus escritores preferidos. Mesmo assim concordo que este livro não é dos mais agradáveis de ler. Acho que Kafka à Beira-Mar e 1q84 são inultrapassáveis.
    Gostei do simbolismo do pássaro de corda; ao fim e ao cabo todos somos como um pássaro de madeira a quem alguém deu corda; até um dia em que a corda acaba :)
    beijinhos

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  9. Entre os dois (4, tendo em conta que o 1q84 é uma trilogia) que mencionas e "A Sul da Fronteira, a Oeste do Sol", não sei qual escolher como favorito: são todos excepcionais! Mas estou contigo, já que Murakami também é um dos meus escritores preferidos, MANUEL.

    Beijocas

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)