domingo, 23 de novembro de 2008

COMER, ORAR, AMAR

Uma mulher de 31 anos acorda a meio de quase todas as noites, para chorar amargurada no chão da sua casa de banho - não se sente feliz! Porquê? Fácil, fácil de adivinhar: tem uma carreira de sucesso, vive num casarão nos arredores de Nova Iorque e está casada com o seu companheiro de há 8 anos, numa perspectiva de constituir família. Só que já não lhe apetece continuar casada, muito menos ter filhos! OK, todos têm direito a mudar de ideias...

É este o ponto de partida de "Comer, Orar, Amar", o livro de Elizabeth Gilbert recomendado pelo Oprah Book Club. Convém salientar esta recomendação, porque até nos livros a moda tem a sua influência, e este, definitivamente, virou uma. De todas as críticas que li (americanas, note-se!) concordo com uma única: "Uma cativante contadora de histórias."

Escrito quase em forma de diário, a escritora relata o desmoronar do seu casamento, uma nova e conturbada relação amorosa que termina em fiasco e a depressão que se instala no seu espírito, fazendo com que entenda essencial conhecer-se melhor a si própria, enquanto, simultaneamente, busca o divino. Assim, quando uma editora lhe adianta a verba para escrever um livro, parte rumo a Itália, Índia e Indonésia, tudo países cujo nome se inicia com a letra I (vaga simbologia do seu "Eu"), numa viagem com a duração de um ano. Não fosse o seu talento como contadora de histórias, a minha passagem pelas 372 páginas deste livro teria sido breve, porque para além do desequilíbrio próprio de alguém que passa por várias crises amorosas - semelhante ao de uma adolescente imatura, como chega a admitir - a sua ansiedade em entrar em domínios espirituais ou sagrados transforma-a numa crente compulsiva, em que coloca no mesmo saco todos os misticismos existentes no planeta. Assim, as várias religiões, a astrologia, a numerologia, o ioga, a meditação e a quiromancia assentam arraiais nestas páginas, numa espécie de festim de deuses, gurus e curandeiros, em que as contradições se sucedem, chegando por vezes a ser anedóticas.

Uma americanice pura, dando a sensação que a grande viagem da escritora foi em torno do seu próprio umbigo, sendo que simultaneamente parece honesta ao querer partilhar as suas experiências "espirituais", numa espécie de manual de auto-ajuda. Que está em voga, entre os americanos...

CITAÇÕES:

"Esta observação é confirmada por estatísticas alarmantes que mostram que muitos americanos se sentem mais felizes e realizados no seu local de trabalho do que nas próprias casas. É claro que todos trabalhamos sempre demasiado, acabamos por ficar esgotados e por isso a ter de passar o fim de semana inteiro em pijama, a comer cereais directamente da caixa e a olhar fixamente a televisão num suave coma (que é o oposto de trabalhar, mas não exactamente a mesma coisa que prazer)."

"Ela vai percorrendo as páginas, mostrando-me umas espantosas fotografias antigas de Itália e, de repente, damos com a foto de um italiano muito giro, em Veneza. Eu pergunto-lhe: - Gale, quem é esta brasa? - e ela responde: - É o filho dos donos do hotel onde ficámos em Veneza. Era meu namorado. E eu digo: - Teu namorado? - E a doce esposa do meu avô olha para mim com um ar tímido, e os seus olhos ficam todos sexy como os de Bette Davies, e diz: - Estava farta de ir ver igrejas, Liz."

"Elaboradas cerimónias para apaziguar os espíritos são levados a cabo durante toda a vida, de forma a proteger a alma dos 108 vícios [...], que incluem itens como a violência, o roubo, a preguiça e a mentira."

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A próxima sessão do Clube de Leitura terá lugar a 24 de Janeiro, com o livro "A minha ama veste calças", de Holly Peterson.

23 comentários:

  1. Um livro tão bom, que me convenceste!
    Nem lhe coloco a vista em cima da capa, quanto mais das folhas...

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  2. Bem, suspeitei que fosse algo assim...até porque está em voga, pelo menos do que chega até nós através da Oprah e da Tyra Banks, os escrutínios do Eu, as introspecções e as, como muito bem lhes chamas, viagens em torno do próprio umbigo. Todas as emoções têm nome, todos os sentimentos têm justificação, todas as depressões têm explicação...eu, eu, eu, eu, eu, e o meu eu interior. É verdade que a sanidade psicológica é importante, e que resolver os nossos problemas interiores não é assunto que deva ser menosprezado. Mas, não abusemos! Quer dizer, tenta-se arranjar explicação para tudo, até para o facto de não se gostar de favas, ou caracóis, ou para o facto de se ser uma besta arrogante que na verdade esconde um grande complexo de inferioridade e blábláblá...e depois? não deixa de ser uma besta arrogante à mesma...
    Bem, mas essa de ela ter 31 anos e um companheiro há 8, assustou-me... :-p

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  3. comprei há bocadinho "o senhor das moscas". deixei "A Peste" a meio há uns tempos e não me apetece retomá-lo tão depressa. o Golding vai ser o meu próximo livro:)

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  4. Bem-vindo, RODERICK!
    Bem, em cima da capa já puseste, que é a que está na foto... quanto às folhas, é contigo! :)

    Não menosprezo de todo a sanidade psicológica da autora, VAN, até entendo que viveu um período conturbado na sua vida, que precisava "arejar" para outras latitudes, uma vez que as "certezas" que tinha anteriormente se desvaneceram. Daí até ser solução para as crises existenciais que todos atravessamos, de vez em quando, ao longo da vida, pois...
    Essa coincidência dos 31 anos não me parece assim tão relevante, até porque a mulher parecia comportar-se como se tivesse 13! Com muito egocentrismo pelo meio, também! :)))

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  5. Olha aí está uma boa sugestão, MOYLITO! Também gostava de ler esse "Senhor das Moscas", que me parece que já vi em filme, mas do qual não me lembro rigorosamente nada... :D

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  6. "Comer" é em sentido figurado ou refere-se mesmo a paparoca? ;)

    Beijoca!

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  7. Refere-se mesmo a paparoca, RAFEIRITO, que a mulher foi para Itália entupir-se de pizzas e massas e em 4 meses engordou 11 quilos (segundo o livro)!

    Um conselho que, para outras mulheres, só serve para ficarem ainda mais deprimidas... :)))

    Beijoca!

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  8. Mais uma dica apontadíssima!
    Ando a terminar um Dan Brown que não acaba e nem fica pouco...
    Boa semana...

    PS: Criativo o título do livro! Gostei!
    Bjks

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  9. Já não consigo ler os que queria.....por isso não vou meter mais um na lista.....porque de nada serviria.....
    Como tal o meu lema vai ser :
    Dieta, Pensar,Passear......

    Beijokitas

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  10. Anónimo11/24/2008

    Por acaso vi o programa da Oprah que falava nesse livro.
    Como dizes, e muito bm, são americanices com que querem contagiar o "resto do mundo"...

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  11. Está em voga, sim senhor. E não é que vende à farta!? O que vem comprovar que estamos com falta de algo.

    Uma grande semana.

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  12. Realmente, tenho ouvido falar muito desse livro ultimamente...

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  13. Bom, para quem gosta desses misticismos todos, pode ser que nem seja mau de todo, MYLLANA Embora seja tudo aflorado pela rama...
    Beijoca e boa semana para ti também!

    Ah, ah, ah, bom lema, PARISIENSE! :)))
    Beijoquinhas!

    Já sabes, CAPITÃO, se quiseres ir fazer meditação transcendental para a Índia, ela indica-te lá um ashram do seu guru... :)

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  14. O pior é que até conseguem, INÊS! O que diz muito sobre a "carneirada" que povoa o mundo... ;)

    Estava publicado há um ano cá no burgo e não vendia nada, CARLOS II. Bastou a Oprah dizer que o aconselhava, para as vendas subirem exponencialmente...
    Falta de miolos, tens razão!
    Grande semana para ti também!

    Andas um pouquinho distraído, não RODERICK?! Até há um anúncio em que o "tio" Marcelo Rebelo de Sousa está a lê-lo... :)

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  15. Xi, saltei inadvertidamente por cima do teu comentário, MATCHBOX31!

    Que se fale é o que interessa à escritora: bem ou mal, sempre é uma forma de publicidade...

    Só escrevi sobre ele porque já tinha dito que o faria, quando acabasse, a algumas meninas que estavam curiosas depois de verem o programa da Oprah. :)

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  16. A parte que mais gostei é a que que coloca todos os misticismos existentes no planeta, no mesmo saco.
    Agora, aqui entre nós, Teté! No fundo, esta personagem dever ser uma chata de galocha, hein.
    Talvez, o significado de galocha seja mais um desafio pra você. ;)
    Um beijo!

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  17. Olá..tenho esse livro, li-o há coisa d eum mês, a Neide trouxe-o embrulhadinho e deu-mo para ti , para lermos as duas ehhhhhh e emprestei-o a uma amiga que não tem grande apetência pela vida... e coitada até tem razão, a vida tem-na tratado tão mal, mas acredito que o livro lhe vai impulsionar a forma de viver..Beijinhos, adorei e aquela dos joelhos a mancar (eu de vez em quando manco e realmente a amiga dela do bali deve saber o que diz!) ehhh( é fixe...

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  18. Ná, OLIVER, já vi muita telenovela brasileira na vida, para saber perfeitamente o que é um chato de galocha... :)))
    Na parte do orar e da meditação, que era ela mais os pensamentos dela, se estaria a fazer bem ou mal, a pensar nos ex e noutras trivialidades, tive de interromper a leitura várias vezes para não adormecer... Serve como resposta, não? :D
    Beijo!

    LAURINHA, minha querida, já sabes que não sou muito crente, nem em Deus nem em qualquer outro tipo de misticismos (já fui mais, é certo!).
    De qualquer das formas, acho que fizeste bem em emprestar o livro à tua amiga. Em fases de desespero recorre-se a tudo, mal não faz concerteza!
    Pois, a amiga do Bali ainda a tentou explorar mais (percebo que culturalmente não tinha nada de errado para ela) e como é que ela se safou da artimanha? Contra tudo o que tinha aprendido, né?
    Para além de uma série de outras contradições, que se entendem devido à confusão sentimental que a escritora vivia... :)
    Beijocas, nina!

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  19. E eu que andei vai não vai para comprar isso. MEus ricos érios.
    Não sei porquê, mas começo a desconfiar que a Oprah não percebe muito de literatura. Ou então recebe comissão para recomendar os livros no programa. Agora anda aí na berra o do Tohle 'um novo mundo'. Deve ser do mesmo género. Tem estado esgotado na Bertrand... calhando, ainda bem!

    (Não querendo ser desmancha prazeres, comecei o senhor das moscas e largeuei-o pouco depois. Está na pilha dos 'tentar de novo daqui a uns tempos')

    Beijinhos
    PS: ainda bem que o 'Eu' interior da liz não começa por Z...desconfio que o zimbabwe, o zaire ou o zebequistão( esta inventei, q não me lembro de mais nenhum país começado por 'z') seriam menos interessantes para esses devaneios de mente desocupada.

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  20. Pois, SAFIRITA, os meus euritos já voaram, mas, assim como assim, posso retirar umas dicas dos bons restaurantes italianos, segundo ela, no dia que lá for (que espero que não esteja muito distante, mas por enquanto ainda não estou a ver jeitos de concretizar essa viagem de sonho).

    Ah, o I da Liz não era tão sofisticado assim, era mesmo do I em inglês, Euzinha, 'tás a ver? Já na numerologia nem tentei explicar, que tem a ver com um rosário de contas hindu ou coisa, a idade dela, as divisões por 3 e escreve o livro partindo desse princípio! :)))

    Ainda vou cuscar na net sobre esse tal "Senhor das Moscas", que tenho ideia que já vi em filme e gostei...

    Beijocas!

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  21. Anónimo7/22/2009

    Pois eu cá estou a ler o livro e estou a gostar. Independentemente do parecer americanisses, gosto da escrita escorreita dela, e acho que todos nós deveríamos -de vez em quando- das nossas escolhas.

    Boas leituras

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)